terça-feira, 17 de agosto de 2010

Casemiro de Souza

Caros amigos e irmãos Umbandistas, hoje gostaria de publicar a todos um texto escrito pelo sr. Casemiro de Souza, falecido aos 25 dias do mês de junho do ano 2000, e que nos deixou a maravilhosa umbanda que praticamos na Sociedade Espírita de Umbanda Tupinambá das Matas Virgens em Porto Alegre.
Após seu falecimento, fui presenteado pela sra Thereza da Silva de Souza, viúva do tio Miroca como era conhecido, com seus documentos pessoais, e que guardo com muito carinho, na certeza de que estes documentos representam uma linda história de um homem que lutou e amou como poucos a Umbanda em sua essência.
Que o grande pai te ilumine sempre e pai José de Angola te proteja....







Vocês já viram aquele ranchinho

Ranchinho de palha beira o chão

Que fica ali na beira do caminho

Que vai da casa grande para o riachão;



Na porta da entrada tem um toco

No lado da encosta um grande canavial

Bem na frente do coqueiro dando côco

E pro lado da baixada é um bananal;



Contam por aqui, que às vezes ali

Até parece que em noites de luar

Vê-se andando no rancho daqui para ali

Um pretinho velho que caminha devagar;



Dizem ainda que ele costumava

Naquele toco de entrada sentar

Quando sinhazinha o procurava

Para as tristezas e as mágoas desabafar;



Aquele preto corcundinha que ali aparece

Sentado no rancho no seu limiar

Na sua bondade de cativo até parece

Que com nosso senhor ele vai conversar;



Nos tempos em que na terra vivia

Na África lá em Angola era seu nome Kabindaloé

Mas depois dos seus doze anos ele viria

Para o Brasil pra ser chamado o preto José;



Foi quando aqui chegou na Bahia

Tendo sido vendido pro senhor do engenho

Passou a viver na casa grande no lado de Sá Maria

A filha mais nova do sinhô Martinho;



Ali foi ele crescendo, crescendo

Sempre amigo e maneiroso com todos da fazenda

Kabindaloé ou José de Angola como era chamado

Nas propriedades de Dom Martinho ficou como lenda;



E já depois de ter vivido

Quase dois séculos entre seus amigos

Foi numa noite de luar já com olhar sumido

O preto José por muito, muito antigo

Deixava entre as palhas daquele ranchinho

Com sorriso nos lábios de satisfação

O corpo inerte de um pobre velhinho

Ficando também a saudade em nosso coração;



O preto José da terra partiu

Indo ao encontro ao nosso senhor

A quem fora servir, por isso a ele se uniu

O preto velho que agora é protetor;



E agora nas noites de luar até parece

Quando a lua faz as serranias cor de prata

E a brisa as folhas do canavial estremece

Nossas noites ouço e vejo o preto de Alpercatas;



Aquele que sentava no toco com sua sacola

Ele agora vem do senhor do Bonfim na aruanda

O preto velho Pai José de Angola

Pra novamente trabalhar no terreiro de umbanda.



Jeca 30/06/1965

Um comentário:

  1. Sou Umbandista com muito orgulho! orgulho por ter sido feito na verdadeira lei da Umbanda,branca e pura como o branco de nossas roupas. E um dos meus maiores amores na religião chama-se Pai José de Angola. Preto velho faceiro ao qual tenho o privilegio de trabalhar já a algum tempo. Fico contente em ver que em uma cidade tão longe da minha ele ainda é lembrado.Gabriel Oliveira.Pelotas.RS.

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